sábado, 28 de julho de 2012

Bagagem Código Blues é o novo disco de Carlos Café


Texto: Eugênio Martins Júnior
Fotos: arquivo de Carlos Café

Como um bom uísque que precisa de alguns anos para chegar a sua forma ideal, o músico de blues também precisa maturar seu estilo ao longo do tempo. E nesse gênero musical, podem ter certeza, juventude é o que menos conta.
Dezenas de viagens, palcos, parcerias e as lições que a vida ensina dão a devida bagagem ao artista. E não sou eu quem está falando. Quem ensina é Carlos Café, guitarrista veterano do Rio de Janeiro que, em seu mais recente trabalho, Bagagem Código Blues, mostra que é curtido na estrada, no bom e no ruim que ela proporciona.
Segundo Café, Bagagem Código Blues é um painel de todas as suas vivências. São oito composições próprias e três releituras com letras que falam de vivências, de personagens, de idéias e observações pessoais. Letras simples e diretas. Em suas palavras, “a maturidade traz a simplicidade”.
Onze faixas do álbum soam como blues das melhores referências, mas salpicadas de novos temperos – alguns até improváveis. Se ouvirmos com atenção, há pitadas de rock, climas menos tradicionais, fusion e até um arranjo inesperado para um clássico da MPB, no caso, Faltando um Pedaço, de Djavan. Variados sotaques de uma mesma língua.
Para dar vida a esses sons, Carlos Café contou com a competência e a colaboração de feras no assunto. Participaram do disco o baterista Guto Goffi (do Barão Vermelho), o guitarrista Mimi Lessa (do Bicho da Seda), o guitarrista Renato Rocha e o baterista Fábio Brasil (do Detonautas Roque Clube), os baixistas Pedro Peres e Pedro Leão, o baterista Gil Eduardo (um dos fundadores do Blues Etílicos), Fafá e Luciano Lopes completam a lista nos teclados.

Seguem contatos para shows e outras informações: www.carloscafeblues.com.br
carloscafeblues.blogspot.com.br




Eugênio Martins Júnior – Explica o nome Bagagem Código Blues.
Carlos Café – O nome vem das vivências musicais e pessoais que eu acumulei em forma de Bagagem. O Código Blues seria a linguagem principal como essa bagagem é traduzida. Como exemplo, temos a música Faltando um Pedaço, de Djavan, que ganhou um arranjo instrumental e a melodia e solo foram tocados com guitarra slide.

EM – Você diz que a maturidade traz a simplicidade. É isso que você buscou nesse álbum?
CC - Exatamente. Trabalhei numa linha bem reta, nada rebuscada. Usei melodias e harmonias simples com letras claras e diretas. Eu antigamente, por inexperiência, precisava fazer músicas complexas, só para dar mais consistência ao trabalho. Acho que é um comportamento bem comum em quem está começando.

EM – A tua música tem um pouco de rock dos anos 80. Lembrei muito do Cazuza e do Celso Blues Boy, o que pra mim é legal porque era o que prestava naquela época. Concorda ou não?  
CC - Sim e não. Eu explico. Acho que meu estilo tem mais elementos da música que me formou como músico e pessoa, a dos anos 60/70. A música dos anos 80 tem uma sonoridade pós-punk/ new wave que eu acho que não tenho. Os dois artistas que você citou são meus contemporâneos, eles também ouviram e tocaram coisas parecidas comigo, bebemos nas mesmas fontes. Acho que vem daí a semelhança.

EM – Fale um pouco sobre o time. Tem alguns veteranos no disco.
CC – O primeiro que eu gostaria de citar é o Renato Rocha, guitarrista do Detonautas. Ótimo músico e pessoa generosíssima. Me ajudou muito nos meus dois projetos. Conheci o Guto Goffi através do Renato. Ele participou do meu primeiro CD em todas as faixas e ficamos amigos desde então. Hoje temos um projeto conjunto de rock instrumental, chamado Guto Goffi Quinteto. O Gil Eduardo foi o baterista que fez parte da primeira formação do Blues Etílicos. Domina essa linguagem como poucos. Tem muito estilo e personalidade, grande vibe nos shows. Gravou três faixas do disco.
Pedro Peres é meu amigo há muito tempo. Ótimo baixista e pessoa. Participou de várias faixas dos dois CDs. Ele é membro integrante de minha banda, o Expresso Blues. Mimi Lessa é guitarrista das antigas, da banda Bicho da Seda. Ele toca comigo no Quinteto e o convidei para a gravação de uma das músicas de minha autoria que tocamos lá também, o Happy Blues. Fabio Brasil trabalha com o Renato nos Detonautas. Tem pegada forte e precisa. Gravou várias das bateras do disco. Pedro Leão é também um amigo antigo. Tocamos juntos num projeto de música contemporânea no início dos anos 80. Ótimo baixista. Participou de várias músicas do disco. Luciano Lopes também toca comigo no Quinteto. Toca órgão como poucos no Brasil. Fafá toca teclado em várias faixas e também faz parte do Expresso Blues. Tenho que deixar registrado o meu mais sincero agradecimento a todos esses músicos.


EM – Você viveu o aparecimento do blues no Brasil e ele passa pelo Rio de Janeiro com Celso Blues Boy e Blues Etílicos. Fale um pouco sobre aquela época.
CC – Nessa época eu tive mais contato com o trabalho do Celso. Era meu vizinho aqui de Copacabana e vi vários de seus shows. Na época eu estava começando e, sem dúvida, ele foi uma pessoa importante para eu ter coragem de tocar esse estilo. Para mim, ele foi o precursor da guitarra blues aqui no Brasil.
Era mais fácil produzir shows naquela época. Tinham várias bandas começando e mostrando seu trabalho em teatros aqui no Rio. A cena musical era riquíssima.

EM – Como e qual foi o teu primeiro contato com o blues?
CC – Foi vendo Johnny Winter, Jimi Hendrix e Rory Gallagher em programas de televisão.  A música era pura e direta, me pegou logo de cara. Eu tinha uns 13 ou 14 anos de idade. E depois, tentar levar isso para guitarra foi completamente natural.

EM – O blues e a língua portuguesa são amigos?
CC – Eu acho que sim. Tem gente que discorda e diz que blues tem que ser em inglês. Para mim o universo do blues é comum a todas as culturas e de fácil identificação. O único gargalo seria a falta de conhecimento da língua para poder traduzir bem esse universo.

EM – Como você vê a evolução do blues no Brasil desde que você começou até hoje? Você acompanha a cena do blues nacional?
CC – Meu contato com o blues se deu em diferentes fases de minha vida, não foi constante. Mas o que vejo hoje é que o blues está se consolidando como um estilo respeitado e a ganhar espaços importantes. Já há vários festivais de blues pelo Brasil, coisa que, há uns 20 anos, era impensável. Há também ótimos instrumentistas e o público fiel está cada vez maior. Estou otimista.


EM – Você diz que a mídia não dá espaço para a boa música, mas hoje nós temos a internet que ajuda muito, não é verdade? Trata-se de um canal alternativo que está virando o oficial para os artistas.  
CC – A internet é, sem sombra de dúvida, um canal alternativo importantíssimo e que ajuda bastante na divulgação. Acho que o problema é que todos recorrem a esse canal, artistas iniciantes e veteranos. E esse excesso de oferta e fluxo dificulta um pouco a chegada até seu público. Mas, seja como for, não dá para ficar de fora.

EM – Porque demorou tanto tempo pra gravar seu primeiro CD solo, o Carlos Café e os Mestres do Blues, lançado em 2009? A dificuldade é por ser um disco de blues?
CC – Não, não foi por ser de blues. Foi o meu caminho de vida mesmo. Iniciei minha vida musical tocando blues, mas senti que faltava mais conhecimento e experiência. É um traço meu, eu preciso ir fundo em tudo que faço. Senti que precisava experimentar outras linguagens. Toquei música instrumental algum tempo, depois voltei para o rock e, aos poucos, fui, naturalmente, voltando “para minha casa”. Agora conheço bem harmonia, arranjo, enfim, todo o vocabulário que preciso para desenvolver minha música plenamente.

EM – Que equipamento que você usa (palco e estúdio)?
CC – O equipamento é quase o mesmo no estúdio e no palco. Tenho várias guitarras, cada uma com sua sonoridade e características distintas. A maioria com captadores single-coil, que foi uma mudança que aconteceu nos últimos 8 anos. Prefiro slides de latão bem pesados. Eles dão um ótimo sustain e um timbre bem equilibrado. Os amplificadores são todos valvulados. Para a gravação usei um Peavey Classic 30, um Fender Hot Rod Deluxe e um Pedrone 5F4 vintage. Esse último é uma encomenda que fiz ao Pedrone de um projeto da Fender, chamado Super Amp, com algumas modificações importantes. Ao vivo estou usando agora um Pedrone Café Blues Special. Um modelo exclusivo feito por minha encomenda. Os falantes são Jensen e Weber. Os pedais overdrive/distortion são: Fulldrive II, Fulltone OCD, Fulltone Catalyst e Fulltone GT 500. Uso um delay Destination Delay X2, da Option 5. Compressores MXR Custom Comp e Barber Tone Press, Pedal de Volume Morley e reverb Digitech Hardwire RV7. O microfone para gravar guitarra é o Shure SM57 e para a voz o M-Audio Nova. Ao vivo uso o Shure Beta 57 para a voz. Uma nota importante: todas as guitarras foram gravadas com amp/falante/microfone. Nada de simuladores!



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